Curioso

domingo, 20 de março de 2011

Caminhar

Está vendo o que estou fazendo. Percorrendo a alameda e já chegando em casa. Ou a casa como queira os puristas. Não nego mais nada. Estou desconsolado. E o sapato, amassado do lado, com os chutes que dei na mesa do chefe. Ele me provocou, muito, demais até. Chamar para falar, na frente de todos e me humilhar do jeito que fez, bem, não é assim que se tratam as pessoas. Ou se trata as pessoas. Outra mania dele, que achava até legal, bem, ótima, se quiser, quando me acertava, melhor, acertava não em mim, mas nas minhas escritas para o dia sair legal. Bem, embaralhei claro. Vou chutar essa lata de lixo. E escutei ela balançar e bater no poste na frente da casa dele. Isso mesmo estou chegando na casa dele, não na minha. Acho até que hoje eu não volto, já que me despediu depois que o xinguei. Não deveria, eu sei, mas o fiz. E a mesa levou os chutes, eu sei, não deveria, mas fiz. E o tapão, ou tapa grande, ou tapona, o que seja no rosto dele. Na cara também vale. Viu só, estou um pouco atrapalhado, essa é a verdade. Estou me sentindo mal. Ou melhor, mau. Bem mau. Mais do que mau. Estou esperando há bastante tempo para lhe dizer, ou completar, tudo o que me tem de ódio na garganta, na barriga, no saco e até no pé. E lá se foi de novo a lata de lixo, rindo baixinho e parecendo um pouco entorpecido. Estou avisando, pessoal, hoje eu vou acabar com tudo. E no poste, já dez horas da noite, eu vou esperar. Sim, pouca luz. Ele vai vir com aquele automóvel luxuoso e vai ver tudo o que vai dar. Ele vai me dar a vida dele, sem constrangimento. Vou implorar para que me escute. Ou escutar-me. Será que é assim? Se não for, também não importa. Eu vou matar ele. Ou matá-lo. Não importa se estiver morto, tanto faz como tanto fez. Olha ele, chegando.
- Oi, pai, gritou o menino. Vem logo. Eu sei, sou pai também, o que isso importa. Não mesmo. Ele me humilhou, foda-se. Se o menino tem um pai assim, nojento e estúpido vai ficar do mesmo jeito que ele. E viu, apreciando a corrida do menino para o carro. E logo atrás a irmãzinha. Não é que ela é bonitinha mesmo. E agora a patroa. Eu gosto dela, sempre bem arrumada, limpa, bonita, bem, linda até. Ele é um homem de sorte. Eu não, ou melhor, fui, não importa. Nada mais importa. E não adianta ficar mostrando coisas que não quero ver mais. Ele vai morrer. Vou matar ele, vou matá-lo e tudo o mais. E deixar mortinho. Que tal na frente de todos. Já que vou embora para sempre, é melhor. Ele chegou. Ótimo.
- Oi, pai, o menino gritou novamente batendo com as duas mãos na beirada, na porta da frente do veículo. Veículo ou carro, o que importa. Nada mais importa. E agora a menina. Veja que lindinha que é. Cabelos longos, negros, olhos felizes. Deve ser um ótimo pai, afinal vieram encontrá-lo, ou encontrar ele. Eu não sei mais o que estou fazendo aqui. Se ele me vir, não sei não. Pode começar outra briga. E vou ser humilhado novamente.
- Oi, querido.
- Oi, lindona. Vamos, estamos atrasados para o cinema. Desculpe, tive um atrito com um funcionário. Esqueci de pedir desculpas para ele. Agora é tarde.
- O que fez?
- Bem, briguei com ele e acho que o humilhei. Se ele estivesse aqui agora faria.
- O que você faria, apresentando-me e já com a arma na mão. Isso, por exemplo, acertei certinho, bem, um pouco de lado a cabeça do menino, ficando grudado no carro até, porque a cabeça bateu com força.
- Não, isso não ele gritou.
- Então isso, acertei com o mesmo jeito a cabeça da menina. Ela me olhou, coitadinha, mas com pena do irmão do que propriamente sentindo o perigo vindo de mim e da minha arma. Não importa. Ou não importa nada.
- Não, pare seu desgraçado, pare.
- Então isso, pronto, coitada dela. Linda, bem linda, diria. Mas morreu do mesmo jeito, um pouco arqueada, não chegando nem perto dos filhos, mas estava querendo que isso ocorresse. Foi feio o gesto, afinal caiu com a cabeça desengonçada e toda estripada nela. Ou o crânio bagunçado e as tripas, ou miolos, bem, não importa mesmo, já fiz, todo para fora. E apontei para ele. E estava sem balas, agora. Dei mais dois toques no revólver, calibre trinta e oito, grande, pesado. E já que não tinha mais paciência com os pés, afinal estava dolorido, ou com as mãos, estava com a arma na mão direita, a mais forte, eu resolvi partir para cima dele. E duas bordoadas no alto da cabeça. Que vai pedir desculpas coisa nenhuma. Da próxima vez, pense bem antes de falar mal, porque eu sou mau e fui mais ainda, ainda agora. E a turma da rua me olhando. Bem, eles resolveram fazer o que achavam que era certo. E eu acho que tinham razão mesmo. Afinal, ser trucidado depois de um ato insano desses, com uma família respeitada, bonita, asseada, comportada é para essa situação ser até, pensando bem, melhor do que ser estripado em uma prisão. Enquanto apanhava, acertei dois, com força na cabeça e foram saindo com rasgos nela, um na testa e outro na bochecha, abriu um corte profundo, tanto em um como no outro, fiz o que deveria ter feito antes. Matar e sair correndo. E fui, levando chutes, bordoadas, tentando bater também com o braço para trás, o direito, com a arma, acertando alguns que reclamavam de apanhar, mas não de bater. E doe muito apanhar. Deveriam ter e ser mais simpáticos comigo. Afinal, não sabem por que fiz. Nem mesmo eu sei bem porque fiz. Não sei mesmo. E cai, agora, sendo chutado e mais uma porrada com o revólver no joelho de um. Mas eram vários joelhos e os seguintes vieram na minha cara, um teve o desplante de pular com um deles no meu rosto. Acho que vou ficar marcado. Ou morrer. Sou um pouco indeciso com as minhas coisas. E chegou a turma da deixa disso. E empurraram os brutamontes para o lado. E o policial perguntou.
- O que foi que aconteceu aqui.
- Esse animal - sou eu - matou quatro pessoas, afirmou um deles.
- Não, respondi, não foram quatro não seu policial. Foram três. O outro só levou bordoada.
- Ainda confessa?
- Não senhor, sou inocente. E essa foi a pior, porque um deles me acertou com força na boca. E reclamei. Porra assim não consigo falar, saindo o sangue por ela. E mordi a língua. Mostrei para o policial. A língua ferida. E de volta, chegou, firme e forte, o cassetete. Doeu. Gemi. Levei mais duas. E ainda com a língua para o lado de fora. Perdi totalmente a consciência. Do perigo, não de fato. Estava lúcido, quando o revólver que caiu da minha mão, magicamente, com alguma bala, ele não, a bala, me acertou na testa. O que será que aconteceu depois? Não sei. Não posso contar o que não vi e não acompanhei.
- Então, tenente, tudo bem?
- Agora sim. Esse já encaminhamos. E vamos sair todos, vamos saindo. Caminhando para casa, todos vocês. E veja lá quem ele matou.
- Sim, senhor. E voltou.
- Foi o Estilingue, chefe.
- O Estilingue? O chefe de bando dessa porcaria de cidade? Coitado dele. Não deveria ter morrido então. Fez um bem para a humanidade.
- E os filhos, a mulher.
- O que acha que vou pensar. Nada demais. Efeito colateral. Deixa para lá. Chame o rabecão. Ou chame-o. Sabe do que estou falando.
- Sim, senhor. Caminhando pessoal, todos para casa. Acabou a folia. Só um bandido morto. E ouviu o gemido dele, levantando-se. Ainda vive, vaso ruim não quebra mesmo. Ouviu-se um novo tiro. Quem fez não se sabe. Esse agora eu sei. Estou com ele, aqui, desse lado. Ninguém nos vê. E a família toda atrás de mim, xingando, me chutando, ou chutando-me. Bem que avisei para ele. Anos de serviços, o trabalho sujo só feito por mim e ele no bem bom. Bem bom está agora. E rindo. Bem, lá se vão às coisas e as pessoas. Eu disse, antes, que não poderia contar. Mas agora, sim, posso. E vocês vão entender tudo o que se passou. Estava no escritório quando esse besta...

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Livraria

Ela está, de novo, em frente à livraria. Que gosta muito mesmo, ler. Mas está à procura da solução da sua vida em termos de literatura. Já pesquisou muitos deles. Assim, desde criança. Ávida por leituras. Romances, na fase inicial entre o começo da puberdade, sonhando com os príncipes encantados da fase infantil e juvenil. Agora, mais elaborados, alguns até proibidos pela mãe. Que coisa, só porque diz o óbvio, foi a discussão. Sexo. Amantes. Flores na janela, no vaso e no jarro. Flores para receber o seu amor no meio da noite. Ou durante o dia, no jardim e no parque. Antes infantil. Agora, juvenil. E os príncipes, rindo, dizendo bobagens, com os seus arremedos de lança. E foi assim que foi proibida de ler. Esse arremedo de lança. O pai sorriu, constrangido. A mãe, brava. E ela, depois de mais leituras, algumas escondidas, se refaz, quando não pode comprar, no meio das crianças, gritando e falando para a mãe o famoso compra esse, lia o que, agora, as livrarias dispõem. Sente-se e leia se gosta. Se adorar, compre. E pode pagar com cartão de crédito ou débito. Aceitamos cheques de clientes cadastrados e até, os vales surpresa e de presentes. Assim, livrarias. Café não toma. Refrigerante, sim, adoro. E comprava, quando o pai lhe dava a mesada, pouca, um deles. O refrigerante e um livro, lendo. E o sorriso, alguns falsos, dos atendentes. Para não ser reconhecida como leitora e não compradora, duas poucas livrarias se dispunha a deixar que o fizesse. Ler a tarde toda. Aos sábados. Quando não precisa ajudar a mãe. Nesse dia, especial, ela limpa a casa toda. Ela limpa. Eu saio. O meu pai também. Ele para o futebol e eu para a livraria.
- Não se esqueça, até as dezoito horas, sempre o convite da mãe. Volte antes das dezenove. Aonde você vai hoje? Deixe o número do telefone. E as respostas, iguais.
- Ta, ta, ta, assim. Uma ta, ta, ta, direto. E saía. O pai, bem antes. Ela depois do almoço. E ficou toda a sua juventude nesse mister. Conhecer aos garotos, agora, depois das salas de aulas, pesquisas na internet (algumas na própria livraria) e mais outras e outras inúmeras condições para poder entrar na faculdade. Ou dificuldade, para algumas matérias. Física, química, quem precisa disso? Literatura? Quem pode viver sem isso? Ou melhor, quem pode viver sem a felicidade. Ninguém. Eu, nunca. E o folhear de inúmeros registros de contos, novelas (algumas), suspense, ação, mortes e destruição. Clássicos sim, quase todos, se possível. E o óculo foi um dos fatores que não gostou de ganhar. Mas parar de ler, nunca. E se especializar, até, em criar outras cenas. Discutir o fato do autor não matar o bandido, veja só. Ele escapou. De uma morte da esposa...
- Gostou? Ela se assustou com o atendente.
- Sim, estou gostando. Posso continuar a ler, prestando atenção nele. Nossa como deixei esse garotão passar?
- Adora ler?
- Muito.
- Somente os clássicos, falou ele, também com cara de devorador. De livros, pensou, mas será que está me paquerando? Por favor, faça isso, você é muito bonito, foi o pensamento rápido.
- Não, de tudo um pouco. Você trabalha na livraria, falou sem pensar e ele riu. Estava puxando assunto, fique aqui comigo, por favor, você é lindo. Estou apaixonada. Ele sorriu evidente. Ali estava o nome na lapela, esquerda, perto do coração. Flávio. Lindo o Flávio.
- Daniela, você é a Daniela.
- Como sabe, perguntou. Ele, de posse do cartão para que ela assinasse. Sorriu.
- Sim, desculpe se fui intrometido. Pode voltar a ler depois de assinar. Fique à vontade.
- Estou muito a vontade, falou parecendo uma menininha enamorada. Recompôs-se rapidamente. Sim, obrigada, pegando o cartão para assinar. Leitora, mesmo. Viu as outras assinaturas que fez e a montanha de livros que já colecionou na mente. Agora, sorrindo, mais feliz do que o devido. Ele é novo? Já trabalha aqui há muito tempo?
- Não, sou novo, falou e sorriu. Filho do dono salientou. Acabei os meus estudos de literatura na faculdade. E você?
- Estou no último ano. O tempo passa depressa quando se está lendo, vendo o horário. Desculpe, posso voltar amanhã?
- Pode levar a livraria se quiser, brincou. Quais? Espere, quando pegou de volta o que estava lendo. Não vai marcar?
- Vou sim, leio amanhã.
- Domingo?
- É mesmo, vou embora. Já está tarde.
- Quer continuar a leitura mais tarde?
- Não entendi.
- Bem, coçando um pouco a cabeça, constrangido. Desculpe, mas o certo é que estou convidando você para uma leitura de cardápio. Ela sorriu, levemente. Ele é lindo, gente, como pode isso? O príncipe encantado saiu de qual livro? E dono de livraria? Não posso pedir mais do que o devido. Eu quero sim, pensou.
- Pode ser. Pode ser, repetiu, com ar de dúvida.
- Bem, posso lhe entregar o meu cartão para assinar? Ela sorriu novamente. Engraçadinho ainda por cima. Mas não vou lhe dar mais oportunidade do que o devido.
- Engraçadinho, brincou. Posso sim, depois do jantar. Desculpe, é jantar ou lanche, devolveu e o deixou pior.
- Por que, se for lanche não vai aceitar?
- Começamos mal ou estou sentindo uma restrição maior.
- O que você quiser, falou finalmente. Vamos?
- Sim, vou lhe dar uma oportunidade. Só até a meia noite.
- Gata Borralheira?
- Bobo, nada disso. O horário, apesar da minha idade, é preciso que seja respeitado. A minha mãe vai me cobrar e pronto. O meu pai e o meu irmão também. São ciumentos.
- Coisa, essa de ciúmes, que não tenho nem um pouco.
- Sei, ainda bem. Vou acreditar juro, quando ele fez o ar de interrogação para a expressão dela de meio enfado e descrença. Juro.
- Pronto, entendi. Até mais à noite.
- Não vai perguntar onde moro? Ele balançou o cartão.
- O meu telefone, rindo. E o cartão balançando.
- Estou frita, pelo visto. Devo muito? Ahá está me cobrando, não é? Seu bandido!
- Nada disso. Estou dizendo, balançando, que sei de tudo de você. Até quando vem da outra livraria. Eles não deixam todos os dias?
- Bandido! Sem vergonha! Bobo! E o riso farto dos dois. Foi um ótimo começo, pensou. Simpático, bonito, forte, deve fazer exercícios. Está ótimo. Uma oportunidade fora dos romances dos livros. Será ótimo. E foi realmente. Não somente a primeira noite, mas outras, até a confiança total da família. Mais dois anos, ela se formou, noivou, antecipou a lua de mel e um ano infinito de prazer, complementando a lua de mel. Agora pensou novamente, na livraria de seus sonhos, como sócia proprietária, o marido, aos sábados, não fica ali. O famoso futebol, com o irmão e o pai. E até convida, aceito de vez em quando para os seus. Sogro, cunhado, primos. Uma maravilha. Bem, nem tanto. Especializou-se nessa questão de se ver, sempre, sozinha no fim de semana. Sábado, não conta mais com ele. Domingo, muito menos. Está um pouco abandonada. E se vir bem, voltou à infância, juventude e todas as informações que acompanhou através dela e sua evolução. Nada em baixo, assim, pequena e manuseando para o começo do prazer. Agora, em cima, túrgidos e pedindo amor. Depois, mais confortável, nenhum outro namorado, ele soube apreciar, usar, manipular e finalmente, proibir. Proibir de sair, de passear mesmo, até com ele. Os ciúmes. Bem, disse que não havia na conquista. Agora, as lágrimas jorram por dentro dos óculos. E não é, propriamente, do que e sobre o que está lendo. Um mártir, esse coitado. A porta abriu, tocou uma pequena atenção e ela vislumbrou outro príncipe encantado. Que charme. Trinta e seis anos de idade. Ela, agora, está mais forte e firme nos sentimentos. E vai ficar apaixonada por esse outro, com certeza. Certeza.
- Olá, tudo bem?
- Sim, como vai. O que precisa. Está atrás de que tipo de literatura, apontando as várias prateleiras já com elas mostrando, com um cartaz enorme. Literatura, Economia, Finanças, Administração. Ficção, romance, policial...
- Nada não. Vim atrás de você mesmo.
- Como é que é. Sou casada, não se enxerga não. Pode sair. Vou chamar a polícia.
- Polícia, caramba, sequer começou a sedução, falou sorrindo, enigmático. O seu marido não lhe dá conta e trata assim quem lhe quer?
- É um estúpido, isso sim. Pode se retirar, por favor. Ele pegou em sua mão, ela tirou. Ele viu o título do livro. Morte em Stalingrado. Outro, embaixo. Morte do Caixeiro Viajante. Outro título, o terceiro. As Razões da Morte Anunciada. E apontou esse último.
- Gostou?
- Não li ainda.
- Tem várias mortes. Inúmeras maneiras de se fazer isso também. Eu gostei. Está treinando para matar alguém?
- Quem é você, afinal? Parece um matador profissional, arreliou. Está me contratando para matar alguém, rindo mais alto. Só faltava essa.
- Não, sou eu, apontando novamente o livro.
- Eu quem?
- O matador. Vim porque me chamou.
- Mas sequer li o livro.
- Mas leu o outro onde estou também. Ela se lembrou, leu o primeiro e o segundo. Esse último fazia parte de uma trilogia. E ele, sorrindo, lhe dizendo com todos os erres e vogais sonantes e dissonantes que era o próprio. O matador.
- Você morre?
- Sim, nesse que ainda não leu. Portanto, aproveite, falou sério.
- Só me faltava essa. E para o que vou precisar dos seus serviços, afinal?
- Acabar com o seu marido, quem mais? Sem sangue. Eu tenho um método infalível.
- Quer sair, por favor. Ele a pegou na mão novamente. E uma sensação estranha e esquisita. Parecia sem peso. Tirou dele, em cima do balcão. A porta abriu novamente e eram três meninas, rindo e dando adeus a ela. Três lindas crianças, sorridentes. Como ela. Adoram ler. E as deixa fazer o mesmo que sempre fez. Até trazer os outros meninos dos quais gostam. Muito. Ela deixa. Assim, como sempre, confirma com as mães que elas ali estão. A ligação faz o controle. Das mães. Como a sua mesma. Que acabou permitindo, sem saber, se tornar uma sogra horrível para ele. Motivo? Como a trata.
- Está pensando não está? Vamos fazer negócio, dando adeus às meninas.
- Saia, por favor. Vai ler alguma coisa?
- Não sei ler. Sou personagem, falou sério.
- Não sabe ler. Não foi isso que estava escrito no romance. Policial. Suspense. Não sei bem, não lembro mais dos detalhes, sentenciou. Ele sorriu e se afastou. Passou pelas meninas, olhou várias estantes, pegou um livro e sentou-se para ler. Ela percebeu de onde tirou um exemplar. Policial. Deixa, só pode, não, é bobagem. E se virou para ver os outros que havia separado no balcão. Quando levantou os olhos não o viu mais. E não escutou a campainha ou badalo, melhor dizendo, da porta. Tanto para abrir e sair, como abrir e entrar. E vislumbrou até pelo sistema de controle do local. Nada, não está em lugar nenhum. Deixou para lá, depois que elas começaram a rir e a se mostrar, brincar com os livros. Agora precisa voltar a trabalhar. Depois eu leio. E o fez, no domingo. Quando soube o texto, completo concordou com a morte dele. Um estúpido. E já haviam matado muitas. Um matador em série. E sorriu quando se lembrou do modo com que ele chegou até ela. Na descrição do personagem, na primeira edição, o primeiro livro, estava corretíssimo. Era mesmo ele. Nada, fiquei impressionada. Vai ver, depois de morto, vai voltar, pensou bem. Só mesmo escritora, como eu gostaria de ser, possa pensar assim.
- Oi querida, pode me trazer, afinal, a minha cerveja, escutou da sala. Está no meio do jogo, falou e gritou novamente. O irmão, dele, mais dois primos. O seu irmão, brigado com ele depois que levou um chute na canela e quase quebrou no jogo de futebol. A discussão gerou um mal estar na família e, nesse domingo em particular foi terrível toda a situação. Acabou até com o almoço que, vendo bem, a feita aturar as suas inconveniências.
- Já estou indo, amor, falou displicente. Já estou indo. E fechou, de vez, no fim, o livro. Fácil. Fácil. Quando chegou à sala, a lata de cerveja, uma para cada um. Com diferentes formatos. Alguns como os dele, com um veneno mortal. As dos primos deles, bem menos. Vão levar outras semanas para atuar. Bem, até que a leitura faz um bem danado. Com a lembrança, ótima, do meu amado que me ensinou tudo o que sei agora.
- Obrigado, querida, ele ainda falou. Dissimulado. Ele só me xinga, todo o tempo. E não faz sexo comigo há muito tempo. Deixa ver, seis meses. Isso mesmo. Para que me quer, se tem amante. As leitoras, uma das quais, morreu na semana passada, de mal estar, era uma das que o visitava. Afrontando-me. Na minha frente, abracinhos e beijinhos carinhosos. Sei, sei. Agora sei como se faz. E vou acabar com ele. Chega de matar quem o ama. Agora mato mesmo, de vez, a minha vontade de poder sair. Para outras livrarias. Afinal, nem só de trabalho se vive. E de escrava então, pior.
- De nada, amor. O time está ganhando?
- Empate. E, flor, pode nos trazer um salgadinho e lanchinho também?
- Claro, amor, com certeza. Vocês querem de presunto ou queijo?
- Os dois. Vocês também? Sim, ela ouviu. De todos. Contou os famigerados presentes. E esfomeados. Acabaram de almoçar. Sou empregada doméstica. Sei, sei muito bem. Esse é o último domingo. Amanhã vou precisar ver, tenho e sei onde procurar, como fazer para arrumar todo o inventário. Na seção de advocacia. Já li um. Foi ótimo. Diz todos os ditames para a legislação sobre o assunto. Adorei. Muito técnico, mas consegui. Não gosto de algumas matérias. Mas a química, que detestava no tempo da escola, básica, me fez fazer um ótimo arranjado de veneno. Doméstico, como estou sendo e fazendo agora. Um pouco no sanduíche deve fazer bem, pensou. Um sorriso sarcástico. Um modo de ver a vida. Até, a partir de hoje, ler algo sobre como viver bem. Com saúde.

Fumar faz mal à saude

Loucura
(Fumar faz mal à saúde)

Estafado do dia. Acabou, fechou as gavetas, depois que pegou todos os seus apetrechos. Chave da própria, do carro, o caderninho de notas e tudo o mais, a carteira, o maço de cigarros. Fechado. Cheio. Não fuma há seis meses, mas gosta desse sacrifício de olhar, não amassar, não se tornar um pérfido, um perdido, um não sentimental com ele, seu companheiro por mais de vinte anos. Um deles, por dia, depois que chegou a consumir dois até, ou um e meio, contava e contava as bicas em seu cinzeiro. Que agora, guarda na gaveta. Fechada. Uma relíquia. Presente da esposa. Sim, hoje vou chegar a casa, feliz, mais um dia que não faço o que ela detesta e reclama. Fiz tratamento dentário, os dentes voltaram a ficar quase brancos, afinal a idade não permite que o esmalte fique na cor que deveria arrumados com o excesso de nicotina. Sim, a nicotina fica arrumadinha neles, agora no espelho do banheiro, verificando todo o seu esquema. Todo o dente, quanto a isso cuidou bem. As cáries, vida curtíssima. Todas elas, bem colocadas, mudadas pelo cinza, brilhante, depois opaco e finalmente pelo esmalte. Nova tecnologia. Até nesse da frente, ficou pouco diferente, não dá para ver, verificando o sorriso.
- E aí, André, tudo bem? Está lindo, vai comer...
- Vou para casa, ver a esposa.
- E precisa de todo esse trato?
- Claro que sim, hoje é um dia especial. Nosso aniversário de deixar de fumar.
- Ela fumava também?
- Sim, charutos e cigarros. Uma fumante inveterada. Depois que tivemos... bem, não importa.
- Pode falar uma noite inesquecível de amor, vai ver. Pode falar, lavando o rosto e enxugando, puxando os papéis.
- Isso mesmo. Somos adultos, é verdade. Uma noite inesquecível de amor.
- Certo, certo, eu compreendo. Pode deixar... quer dizer, tudo bem, tenha uma ótima noite, André.
- Certo Napoleão.
- Ei, louco é você, meu nome é Antonio, seu... bem, deixa para lá. Já falei que não gosto do apelido. E louco é esse pessoal do escritório. Já foram todos embora?
- Sim, já. De onde você veio, afinal, para não tê-los visto. Está ficando idiota ou o que.
- Vim de lá... apontando e ele olhou novamente para o espelho. E não viu o louco, o Napoleão. E do lado dele, agora, rindo.
- Porra, o que é isso, se afastando e ficando, praticamente, preso na parede, com os braços para frente e totalmente alucinado.
- Calma, calma, está vendo o motivo do seu aniversário. Calma, André, eu estou bem, estou vivo. Só o espelho que não me vê. Eu não tenho culpa. Deve ser problema do fabricante.
- E você se vê no espelho. Caralho. Fiquei louco. Falta de fumaça no pulmão.
- Não, nada disso. Não vai descumprir a promessa que fez para ela naquela noite.
- Como sabe que era noite? O que você quer dizer com isso?
- Não sei, porque falei dessa maneira. Bem, terminando, puxando o pente e fazendo todo o trajeto até no final, batendo os dentes, novamente, neles, no pescoço, passando forte por ele, coçando. E o André, aos poucos, foi saindo, com ele distraído. E disparou para o elevador. Tocou. Abriu. E quando ele chegou e fez para receber o próprio, André, ali estava o Napoleão. O Antonio. Ele parou. O outro o puxou para dentro, com a mão forte que sempre foi possuidor. Pensando bem, quando foi que o Napoleão desapareceu? É verdade, ele faz tempo que não o via, apesar de ser de outro departamento.
- Vamos juntos. Quero ver se realmente não vai usar o maço.
- Ele está fechado, ficando longe dele. O segurança, quando ele saiu do elevador em disparada, abrindo a porta e correndo pela avenida, sorriu.
- É assim mesmo. Basta ver o Napoleão e esse pessoal corre desse jeito. O que foi agora, Napoleão?
- Ele não pode voltar a fumar, Aléssio. E você também não. Ele abriu a gaveta e mostrou. Fechado, completamente. E numerado. Foi o Napoleão. E ele viu o homem, o Napoleão sumir pela porta, que chegou a dar mais dois giros, pela batida do André.
- É assim mesmo. A fumaça deve ter feito mal para nós. Ele viu, eu vi que ele conseguiu ver o Napoleão. Um louco. Um louco que nos deixa assim. Cumprindo promessas.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

E=m.c2

E a justificativa do erro do século e da física quântica. Grande pretensão.

Ao basear na formulação famosa, depois que encontrou elementos para tornar essa verdade irrefutável, Albert Stein e outros colaboradores fizeram por bem deixar para a sociedade científica comprovar, quando fossem possíveis os seus elementos de construção de equipamentos permissíveis de fazer dessa fantasia e dissertação, para o lado correto da afirmação.
Quando se coloca sobre uma determinada afirmação, a teoria considerada da relatividade vai se der conta do efeito zerado, quando a sua intermitência colaborativa, ou seja, sua intersecção de uma para a outra função. E de Energia, é, em suma, uma probabilidade de duas outras funções. A massa e a luz, no vácuo, ao quadrado. Nada contra essa afirmação. Tudo quanto à possibilidade de ser correta.
Vamos por partes.
E de energia seria o E de eletricidade. Ela sim provém de outros fatores para que exista.
M de massa é uma formulação correta. M pode significar massa. Base carbono ou qualquer outra. Portanto, variável. Na condição de existir e também no vácuo. Se existe massa no vácuo, sim, ela coordena com a luz, também no vácuo para que a E, antes dita Energia, se propague.
- Questão um:
Na existência de luz no vácuo, ultrapassando a todas as barreiras, se dá conta que para criar a Energia, dita anteriormente, tem que encontrar Massa – o M, para formar a Energia. Fácil a solução. Se for vácuo e não existe a Massa, seja de que elemento for, até gasoso, portanto zero, fica-se na condição de que a multiplicação não forma nada. Ou seja. E de energia é igual a zero. Não iniciou, não é nada ainda.
- Questão dois:
Sendo e partindo do zero, quando sem massa, partimos para o segundo questionamento. Se existem a massa e a luz, como força maior e só conseguindo a velocidade quando sem massa, consegue-se, nesse pensamento, adquirir a verdade que não é possível se formar a equação quando um dos elementos não existe na sua totalidade, já que a verdade é dita que a Energia é proveniente dos dois elementos, conseqüentes dele e que devam existir diretamente. Não se pode excluir um, por conseguinte ficariam as fórmulas dessa maneira. E=m e E=c2. Se E é um e outro ao mesmo tempo, não excludente devido a premissas levantadas e pontuadas, há de se convir que exista algum formato indevido nessa formulação. E nada de fórmula matemática. Apenas a consideração das probabilidades existentes.
- Questão três:
Se E não precisa de elementos para confirmar a sua existência e ele é dito e sentido em todos os parâmetros encontrados, pode-se partir da possibilidade dele existir, a Energia, sem qualquer outro elemento que posa gerar a sua intensidade. Ou seja, independe de massa, da luz e de qualquer outra expressão atualmente conhecida. Existe não se pode dizer simplesmente, mas existe e não depende de outra geradora, seja de calor, de dimensões outras que não as já conhecidas no atual grau de especialização e progresso da dita humanidade.
- Questão quatro:
Somando-se a todos os questionamentos e proposituras acima, a Energia é um elemento natural e de força inequívoca, sem que outras a alimentem. Como a própria luz e como a formação da massa. Elas sim são inequivocamente, formadas por aglutinação, dispersão, com medidas simples, hoje, de serem manipuladas, achatadas, deformadas e que, no parar dessas forças, voltarem a sua condição de formação inicial e básica. Água, por exemplo. O H2O como conhecido, sempre formado por aglutinação. A energia não estabelece pressão sobre os dois de hidrogênio com um átomo de oxigênio para formar. Portanto, não podem se perder. Estão entre o vácuo e a massa. Esse sim, o vácuo é que deve ser explicado para a formação total dos experimentos.
- Questão cinco: O vácuo.
Ele deve ser estudado, formatado e dito, de uma vez por todas, que existe. Ele é formado por partículas subatômicas, agregadas e que se desprendem quando e sob qualquer movimento, quer da massa quer da geração da própria energia. Do pensamento, dos motores, das dispersões aleatórias ou agregadas por ondas eletro mecânicas e ondas energéticas de todas as formas possíveis. As de origem solar, dos planetas em gravitação ao redor do mundo existente e até entre os próprios planetas já conhecidos bem como as galáxias distantes. Não está jogado no espaço. Está no vácuo, que, até agora, não foi pontuado por essas partículas. Ainda existem menores que as de atual conhecimento. E nos vemos entre esses espaços e durante o que ele nos fornece para aquilatar ser verdadeiro.
- Questão seis: A Energia.
Ela é formada por elementos subatômicos. Não precisa de outras formas de processo ou procedimento, sejam físicos, químicos ou de extraordinária formação químico/física. Não se precisa misturar nada ou aquilatar outros elementos para que seja formada. Ela é simplesmente, como o núcleo infinitesimal.
- Questão sete: A Massa.
A energia, através da massa. Quando ela deixa de existir, como nós mesmos, a massa integrada, ajustada, coordenada e ampliada pela nossa mente, sendo que a existência dela é formada por átomos, núcleos e aglomeração celulares físicas. Nenhum ato ao contrário e pretensão de se provar ou comprovar o já conhecido, estudado e esmiuçado. Mas tem uma centelha que a mantém assim, viva e reinante. E essa centelha, se fosse depender da massa e da luz, sequer existiria. Melhor, ela existe independente da massa (corpo) com a luz (solar e elétrica). A Energia permanece. No caso, mente atuante. E a massa corpórea junto com a luz fenece. Porque entre as células que vão se dispersar e voltar desunidas e reencontradas novamente em um próximo futuro, com outros seres, não vão poder se reunir sem que a energia, que os congrega, retorne. Ela é soberana. Ela existe sem soma. Ela é indivisível. Existe simplesmente. Ou pode ser provada a sua existência também, fora da filosofia da compreensão simples dos termos aqui tratados, com fórmulas matemáticas, quânticas, das diferentes áreas em que pode ser feita a sua atuação.
- Questão oito: A dispersão – Morte.
O conceito básico de quando falta energia não existe luz. Sim, existe. A luz não precisa estar necessariamente no meio da massa ou até no vácuo. Ela pode passar e continuar, refletir em vários elementos, gasosos ou sólidos, como conhecemos e convivemos. Mas não temos a condição de ver a sua importância e alternância sobre outros modelos. Por exemplo, temperaturas muito mais abaixo do que hoje podemos avaliar. Ou superior a todas as forças possíveis do espectro solar multiplicado por todos os números, infinitamente pequenos e o seu contraste infinitamente enorme. E com isso, com essa dificuldade inicial a nossa compreensão ter um aspecto interessante. Fiquemos na teoria. Se não compreendemos ou não podemos chegar a esse parâmetro, façamos alguma fórmula que nos dê a segurança almejada. De que podemos controlar ou, por fim e na acomodação, achamos por bem saber que ela está sob nosso controle. Conhecemos todas as suas dimensões e com isso nos sentimos detentores do poder.
- Questão nove: A fórmula – A teoria não resolvida.
Voltando a fórmula especificamente, ela se baseia em que há, sempre, uma correlação de outras forças para formar alguma, sendo que as que formam a principal são detentoras de erros crassos de interpretação. Não se pode multiplicar massa com vácuo, ou luz no vácuo. Como formulado antes, se um existe e o outro não se chegou à condição de uma fórmula simples, multiplicando o zero (massa ou vácuo), tornará a Energia não existente. E ela existe naturalmente.
E agora cientistas? E agora filósofos? E agora gente unida na comunidade religiosa? Prova? Esquema? Finalização? Ponto final para a criação. Quem fez?

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Distância

A estrada parecia não ter fim. Vários quilômetros e o aspecto árido, seco e até tórrido em certos espaços o deixavam quase desidratado. A pequena lancheira e os pouco pedaços de gelo, já derretidos na caixa de isopor com as duas garrafas de água, já não surtia o efeito desejado. O desgraçado do ar condicionado do carro deveria ter sido isso há milhões de anos atrás, afinal quase não refrescava. O motor quente, o sol agora a pino e nada, de nenhum lado, naquela estrada maldita. Por que fui errar o caminho. Voltar para onde se estou fugindo de uma situação aflita. Não quero voltar, não vou e sim seguir adiante. Tenho bastante gasolina no tanque e, pensando bem, talvez mais duzentos quilômetros antes de achar um posto para reabastecer. Mais devagar, puxou de novo o dobrado, quase amassado, mapa da estrada e verificou essa possibilidade também. Uma pequena casa ou o que poderia dizer aquele vermelho quadrado, muitos deles nos pontos das estradas, algumas cruzando naquele papel. Cada quadradinho, dois quilômetros, e tinham muitos deles antes de atingir o que pretendia. O final daquela estrada, entrada à direita, mais alguns quilômetros e o refúgio final, depois de toda aquela desabalada carreira. Ninguém o viu, mas está certo que quando mais cedo chegar, melhor. Afinal, se precisar de alguma explicação melhor, um álibi, pode dizer que esteve em casa os três últimos dias. Agora, depois que leu, acelerou mais um pouco e o velocímetro marcou o cento e cinqüenta quilômetros por hora. Nessa estrada é permitido até cento e sessenta, uma grande reta. Só não posso dormir, pensou e sorriu. Passou célere por uma placa sem saber o que se tratava. Mais alguns quilômetros e viu adiante outra placa e diminuiu a marcha. O calor insuportável e somente meia garrafa de água, apoiada na do isopor que já começara a esquentar. Era entrar e sair pelos poros, maior quantidade, já que o corpo deveria estar com febre. Aos poucos foi chegando e lendo a possibilidade de mais alguns quilômetros à frente alguma alma viva. E foi o que aconteceu quando viu um quilômetro para uma entrada de vila, cidade ou o que aquilo poderia ser, um nome estranho. Cidade do Peixe. Assim, em letras maiúsculas e minúsculas. Cidade do Peixe naquela região, inóspita e ensolarada. Deve haver algum rio e muita mata. Não estamos perto do mar, meio do país, portanto alguma selva escondida. Nunca tinha ouvido falar, e, pensando bem, não conhecia a estrada e nunca teve a infelicidade de se vir na companhia dela para voltar para casa. Diminuiu a velocidade para a metade, quando percebeu que a entrada era de quarenta e cinco graus, para a sua direita. Portanto, não custa nada. Entrou e um quilômetro adiante, uma placa igual lhe dizia que a Cidade do Peixe, abaixo do nome mostrava o número cinqüenta. Se for quilômetros, só poderia, porque metros não, afinal ainda estava com muito calor e nada dos dois lados da poeirenta estrada. Pelo menos a principal era lisinha. Essa tem muitos buracos. Vai ser que são as escamas, sorriu da própria bobagem que pensou. Eram quilômetros, porque chegou depois que anotou mentalmente a partir da placa e acompanhou nos irritantes números, um após o outro. Isso o que dá viajar sozinho. Nos exatos números, confrontados e confirmados, chegou a um pequeno hotel à beira da rodovia poeirenta. Bem, uma estalagem, um motel, um misto dos dois. Quase em ruínas. Não deveria ter entrado na estrada. Se voltar e não tiver mais nada durante cem quilômetros, previstos os duzentos para chegar à estrada que dava para a sua, ficaria no meio do nada. Parou e desceu. Olhou em volta, deu uma boa esticada nos músculos doloridos, todos eles, sentiu o sangue fluir para os lados adormecidos e voltou para a posição de pesquisar o local. Tirou o boné, passou novamente a mão no rosto e enxugou nas calças. Que calor miserável. Não tem uma única árvore, não é a toa que esse espaço foi para o espaço, rindo da outra bobagem. Ruínas somente. Foi até a recepção, escutando som de música. Entrou e no quarto adiante, bem de frente para o balcão, tinha uma senhora sentada assistindo televisão. Televisão. Não viu fio em lugar nenhum. Bateria, provavelmente. Mas, bem, tocou a campainha, sem som. Bateu no balcão. Ela olhou para a direita, estava sentada olhando para a televisão, escondida, mas escutava o som e achou que era televisão. Tinha um aspecto macilento e nervosamente e dolorosamente levantou-se, apoiando na não menos suja e poeirenta poltrona. Quando sorriu para ele, mais o assustou do que lhe trouxe uma boa recepção, apesar do olhar gentil, mas sem dois dentes na boca, formando um total bastante estranho. Mas o cabelo estava bem penteado, puxado para trás e o vestido, milagre total, limpo. Sentada na sujeira, mas ela estava limpa.
- Pois não, falou maciamente. Precisa descansar o corpo ou o espírito, falou assim, calma e ponderada. Parecia uma vovó, dizendo para o netinho não ter tanta vontade de sair correndo e brincar o tempo todo. Com banho ou sem. Ele se perguntou se realmente estava em algum lugar ou o sonho tomou conta e estava lhe dando ilusões, uma atrás da outra.
- Com banho, sim, de água não de poeira.
- Claro. Água quente ou fria?
- Ainda tem para escolher, vendo que ela abriu o livro, capa preta, com o nome do hotel, assim Hotel do Peixe, desse jeito, letras douradas. Limpa, apesar da possibilidade de muita poeira da estrada. Quando chegou levantou bastante, vendo que do lado de fora já havia assentado.
- Sim, pode escolher. Quarto para solteiro, sim, afirmou, olhando para o veículo. Solteiro, anotou. Seu nome, por favor?
- Evandro Sotero de Albuquerque, orgulhoso.
- Anotei. Número do documento de identidade para comprovar se está tudo certo.
- Para comprovar!?, pegando o documento e entregando.
- Sim, queremos ter certeza que os hóspedes são mesmo o que dizem. Afinal na Cidade do Peixe e no seu principal hotel temos esse cuidado.
- Não diga, e quem mais que a senhora tem esse cuidado. Só tem esse hotel, rindo baixo e não vejo mais ninguém.
- Verá quando chegar a hora. Ele se assustou, tentando perceber o máximo do espaço.
- Que horas?
- A da chegada dos pescadores. Não sabe que eles vêm aqui? Só pescam durante a noite, fique sabendo que a colheita é sempre grande. Então, está certo, devolvendo o documento. Solteiro, branco, o documento confere e a sua vaga está preenchida. - Ainda bem que nos pediu com antecedência.
- Não fiz nenhuma reserva!
- Não precisa ser o senhor mesmo a fazer reserva. Foi apresentado por um amigo querido e fiel, ainda mais para essa hora, não é mesmo. Bem, quarto duzentos e, olhou para baixo no balcão e tirou uma chave. Duzentos e vinte e nove. - Pronto, aqui está no fundo do corredor.
- Mas não devem ter todos esses quartos, com todos esses números.
- Sim, tem, pode ir. Fique a vontade. Tem tudo no quarto para o banho. Se precisar mais de algo só me ligar, fechando o livro e deixando em cima do balcão. Ele ameaçou abrir de novo, mas o olhar firme dela o fez parar. Pegou a chave em cima do balcão e abriu a porta lateral, achando que iria sair direito na parte lateral da casa, de quem a vê pela frente, direita. Não era nada disso. Um longo corredor. Fechou a porta. Ela sorria e lhe indicava para continuar. Ele abriu a porta novamente e a lateral da casa estava ali. Sorriu e saiu. Viu a continuidade da casa para trás e o número do primeiro quarto. Duzentos e vinte. Riu mais ainda. Entendi. Começa com duzentos e vinte, mais um pouco o duzentos e vinte e nove. Achei. Pôs a chave na porta e abriu. Ali estava uma confortável e aprazível, cheirosa, bom perfume, limpa, asseada e encantadora forma de prazer de acomodação caseira. Entrou e fechou a porta, abrindo um pouco a cortina. Olhou para fora e viu um campo majestoso, jardim, relva, árvores frondosas e uma grande lagoa, com aparatos para segurar varas de pescar. Fechou a cortina, voltando-se para dentro do quarto. O que estou vendo, já sei alucinação, ainda estou quente, colocando a mão no rosto. E suando, percebeu. Não sabe se de nervoso ou da temperatura. O ar condicionado ligado, não tinha visto. Abriu novamente a cortina e lá estava a extensão poeirenta. Entendi alucinação. Bem, agora um bom banho para esfriar esse olhar, fechando os olhos mais rápido e várias vezes. Despiu-se, jogando a roupa em cima da cama. Primeiro vou tomar o banho que preciso. Ponho a roupa suja mesmo. Vou embora depois que esfriar os ânimos. Fez o que pretendia e mais dez minutos do banho que lhe devolveu a temperatura ideal, seco, jogou-se na cama. Não pressentiu e dormiu. Não sabe se sonhou, sem certeza, quando acordou com as batidas na porta.
- Senhor, senhor, não vai pescar, perguntou uma voz feminina. Ele ficou sentado na cama e vestiu-se rapidamente, abrindo a porta. Lá estava uma moça bonita e com outros homens, rapazes, crianças, meninas, mulheres e a vovó, recepcionista. - Então, vai pescar conosco? Ele não entendeu, estou sonhando. Todos sorrindo e ele não.
- Vamos o senhor vai levar essa vara, falou a recepcionista. É para os peixes grandes. Vai conseguir vários essa noite. Todos eles passaram adiante e algumas crianças correram na frente. - Então, está feliz?
- Não sei, porque deveria estar segurando a vara, balançando e o final dela, no anzol, grande, preso em uma pequena forquilha, perto da sua mão. Deveria ter uns três metros e parecia bem forte. A linha grossa. A senhora simpática e os outros rapazes batendo em suas costas. Pura alegria.
- Vai pescar o maior peixe hoje, tenho certeza. Se conseguir, vai ganhar mais pontos e ser premiado, falou a formosa, colocando a mão em seu braço esquerdo e o puxando.
- É mesmo, e como pode saber isso?
- Está programado, afinal foi você mesmo que pediu essa oportunidade.
- Não sei o que está falando, não sei mesmo. E posso saber onde estou afinal, voltando à realidade. Perdeu um pouco, depois que abriu a porta do quarto, quase entrando em um festival de boas vindas e de uma turma alegre por estar com ele. Não os conhecia, a nenhum.
- Ora, foi você sim, recebemos a sua encomenda. Um peixe de cinqüenta quilos. Ele existe claro, mas deve pescá-lo. Nós nos contentamos com os pequenos. Não temos muita força para agüentar.
- Agüentar o que?
- O peixe. Até dez quilos é mais do que o suficiente. Ele parou. Onde está o carro, o casebre, a estrada poeirenta, a recepcionista já viu, adiante e segurando a mão de duas crianças. Bem, uma referência, mas e o resto? Essa moça, não sei quem é. O ar fresco da noite o embalou e quando percebeu, sem ser arrastado, estava sentado do lado dela. Sem isca, jogou o anzol na água, praticamente perto porque não fez força. Estava em ângulo de quarenta e cinco graus para a água. Ela sorria e fazia menção que olhasse para o final da linha, dentro da água. Percebeu um pequeno movimento e logo em seguida a linha foi puxada para mais longe no lago, fazendo um ângulo de setenta a oitenta graus. Quando toda a linha da carretilha acabou o tranco não foi violento. Ele segurou e começou a puxar, com ela incentivando. Duas crianças, um menino e menina, dois senhores, um mais velho e mais cinco senhoras e ela, aquela que parecia senhorita, empenhadas em lhe dar voz de atenção ao que estava fazendo, devagar, devagar agora e o entusiasmo próprio para quem estava conseguindo o que havia pedido. Ele enrolou até ver que estava chegando a hora do peixe aparecer. Não foi peixe, foi ele mesmo, pendurado no anzol, de boca aberta e sofrendo. Largou a vara, apavorado. Todos eles a seguraram e puxaram para fora, ele se afastando daquela horrenda aparição. Se estou aqui não posso estar no anzol. Tenho cinqüenta quilos, não, tenho setenta e dois quilos. Cinqüenta quilômetros, o que estou pensando? Estou no anzol, estou morto! Beliscou novamente. Não, estou vivo. Quando o tiraram do lago, ele acordou e tirou o anzol da sua língua. Estava seco. Colocou a mão para frente para cumprimentá-lo. Ele pôs os braços para trás. Ela, a senhorita, gentilmente pegou a sua mão direita e praticamente o obrigou a cumprimentá-lo. Sentiu o gelo da mão dele e apertou. Ele sumiu. Tudo sumiu, e se viu no meio da poeira e fora da casa. Olhou em volta, estava escuro. Voltou para o quarto. Quando abriu, não poderia ter visto um lugar mais horrível de sujeira e de móveis velhos e carcomidos por traças, aranhas ou qualquer outro bicho, também roedores. Tudo esburacado, rasgado, sujo e estraçalhado. Um horror. Fechou a porta e foi até a recepção. A senhora estava sentada na mesma posição.
- O senhor já vai sair, perguntou sem se levantar da poltrona. Ele continuava escutando a televisão, e, de volta ao mesmo ambiente de quando chegou.
- Posso saber como a senhora faz isso? O que aconteceu, pode me dizer como consegue manipular a minha mente dessa maneira.
- Não entendi o que disse, qual foi a palavra, continuando sentada e dele para a televisão. Não sei nem o que se refere e o que quer dizer essa palavra. Como é mesmo, perguntou, desligando de vez dele e olhando para frente. Estou vendo que não gostou muito da experiência. Olha só, ficou bravo, apontando para frente e rindo.
- Fiquei bravo com o que?
- Venha ver, não quer assistir, venha, pode entrar, pediu. Ele deu a volta no balcão e entrou na sala, feia, malcheirosa e, na estante, a televisão passava o seu filme. O filme dele e a pescaria. Ele gritou apavorado e tentou sair. Só que os pés estavam presos em alguma coisa, cola ou pregado, por que não saiam ao seu comando. Não levantavam sequer e ele assistindo tudo novamente. A sua chegada, a abertura do livro, ela comentando e dizendo o número do quarto e assim por diante. Quando deu o fim, pelo visto rebobinado continuou até onde estava pregado. Desde a sua entrada na estrada e o número cinqüenta aparecendo. Não sabe quantas vezes aconteceu até que gritou bem alto, pedindo um socorro que aparentemente não iria chegar. Estava louco, a televisão passava um filme da sua vida, desde a fuga. Mas não aparecia a fuga, só quando entrou na estrada.
- Então, vai assistir e ficar repetindo, deixar repetir quantas vezes até se arrepender do que fez, perguntou afinal, depois que aguardou o som do grito diminuir e acabar.
- Não sei do que está falando, sua velha bruxa. Fechou os olhos, mas em vez da escuridão total o mesmo filme. Já estava no desespero total, balançando de um lado para o outro sem sair do lugar. E o filme continuando. Outro grito, o máximo que poderia fazer. Nada, o filme e o seu fim e novamente a entrada na estrada e o número cinqüenta. Quero sair disso.
- Basta pedir perdão, meu amigo, e vai poder ir para casa.
- Não sei a que se refere. Bruxa!
- Se me ofender novamente eu vou embora e deixo você sozinho, para toda a eternidade.
- Onde estou, gritou, onde estou?
- Na sua mente, meu jovem. Direto na sua mente. Está dentro de você e suas culpas. Pediu para ser ajudado, nós demos a vara e pescou a sua mente de volta do lago da solidão. Agora, se não pedir perdão não vai se desvencilhar das suas culpas. As tem você sabe só você sabe. Se não se perdoar, vai ficar nesse filme eterno. Afinal está preso, não somos nós que vamos conseguir soltá-lo.
- Está bem, eu me perdôo, pronto. Só não sei do que. Não conseguiu sair e o sofrimento passou a ser atroz, olho aberto ou fechado, provavelmente estou ficando louco. Gritou por socorro novamente. Socorro me tirem daqui, pediu. Os pés se desprenderam e ele saiu correndo, batendo e derrubando o balcão, afinal estava em ruínas. Não via o automóvel que chegou e retornou. A velha, para ele uma bruxa, sentada na mesma poltrona. Quando chegou apontou para fora e ele se virou. O carro do mesmo jeito que havia chegado. Correu para lá, ligou e embreou, saindo rapidamente, fazendo um balão e retornando passando pela casa. Parou. Não havia nada nela. Sequer a velha, bruxa, o balcão, somente pedaços delas e um telhado quase beirando o chão, pelo estado era o que parecia. Destruição total. Quando finalmente resolveu sair daquela situação, uma moça, na frente do carro, bateu levemente e o assustou novamente. Se continuar nessa situação vou morrer de susto. Ela deu a volta, abriu a porta e sentou-se ao seu lado.
- Vamos, então, já que quer a minha companhia.
- Não conheço você, pode sair, deve ser filha daquela bruxa. Afinal para onde ela foi?
- De volta à sua mente.
- Sim, pois não, e você?
- Sou a sua mente.
- Está louca, todos estão?
- Mas se não tem mais ninguém aqui, só você e eu! Você e a sua mente. Vou acompanhar, mas quando pedir perdão eu vou embora.
- Vai embora para onde, afinal, se é a minha mente.
- De volta para a terra. Não está lembrado, pescou você no lago.
- Sim, eu vi.
- Pois então, era a sua alma, perdida, suja, desamparada e desencontrada. O último crime que praticou acabou de vez com a sua sanidade. A alma perdida. Eu, a sua mente, fico aqui, se quiser. Vou embora, estou morta quando pedir. A sua alma pode levar, não posso fazer nada. Para onde é você que vai dizer. Fico ou saio?
- Se você sair eu morro?
- Isso mesmo.
- Então, saia. Prefiro a morte a essa maluquice toda. Ela o fez e ele morreu. Acordou e estava no mesmo lugar. Sorriu meio estranho esse sorriso. A casa e tudo o mais estava no mesmo lugar. Desmaiei no carro, rindo com exagero. Espera calma, estou bem. Ligou o carro e arrancou de vez. Quando passou pela placa, olhou para trás e viu que o número cinqüenta tinha se transformado em zero. O cinco desapareceu. Ele contou os quilômetros da casa e exatos cinqüenta. Voltou a estrada principal e à direita, empreendeu novamente para onde estava inicialmente tentando chegar. Mais sessenta quilômetros e a estrada à direita levava para a sua residência. Parou naquela esquina, posto para os viajantes, extenuado, veio sob tensão e dirigindo. Tentando lembrar o que acontecera e como foi possível conversar com a sua mente. Uma bela mulher. Eu sou homem e a minha mente é uma mulher. Pediu para encher o tanque, outra moça, explicando qual a chave e entrou para se refrescar e tomar uma água, cerveja, vinho, aguardente mesmo. Estou vivo. A velha, que considerava bruxa veio até ele, que se afastou do balcão.
- O que foi, está assustado comigo. Não mordo. Riu.
- Desculpe, me pareceu que a conhecia.
- E sou assim feia a ponto de recusar o meu contato? Desculpe, estava só pegando o prato sujo da sua frente. Vai querer o que, meu filho. Desculpe novamente, modo de falar. Então, quer o cardápio, já mostrando. Temos tudo, nunca falta nada para os viajantes. Ainda mais na condição especial quando chegam a nosso posto.
- É mesmo, e qual é essa condição especial?
- Bem, pediu para a minha irmã gêmea que queria estar morto à ficar com a sua mente, não foi. Então, agora vamos encaminhar você para onde deve ir. Só que antes tem que ler o cardápio para escolher. Ele abriu e toda a sua vida escrita, comentada, explicada, justificada e finalizada pela sua mente. Concordou com tudo. Menos com a distância que precisará percorrer para chegar à paz que almeja. Quando percebeu, todos os pescadores estavam de volta. Eram agentes e destinadores de espaços e os seus destinos. O dele, infelizmente, não era o melhor. Afinal, não pediu perdão das mortes que praticou principalmente a última. Da ex-mulher e dos filhos. Ciúmes mata, o dele foi pior ainda. Perdeu a mente totalmente e a loucura o levará para um espaço eterno de perdição. Mesmo com a alma pescada. Ele pescou só o ruim, o pouco de bom ficou nela. A que preferiu que morresse. Uma grande pena. Eles o colocaram no carro e seguiram a pista que sumiu.
- O que foi colega?
- Ataque cardíaco. Quando cheguei para acudir, falava alguma coisa sobre mente e alma, cidade da pesca ou qualquer coisa assim. Expirou em meus braços. A dona do posto disse que chegou muito cansado e deprimido. Chamou quando ele caiu para trás no balcão, depois que leu o cardápio. Situações da vida que a gente não entende.
- Está certo, fechando o zíper do saco plástico preto. Ele, do outro lado, viu e escutou esse barulho. Estava definitivamente fechado para o mundo que considerava real. Outra enorme e grande pena e perda. Outra enorme e grande, para aprender, de distância.