Curioso

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Fumar faz mal à saude

Loucura
(Fumar faz mal à saúde)

Estafado do dia. Acabou, fechou as gavetas, depois que pegou todos os seus apetrechos. Chave da própria, do carro, o caderninho de notas e tudo o mais, a carteira, o maço de cigarros. Fechado. Cheio. Não fuma há seis meses, mas gosta desse sacrifício de olhar, não amassar, não se tornar um pérfido, um perdido, um não sentimental com ele, seu companheiro por mais de vinte anos. Um deles, por dia, depois que chegou a consumir dois até, ou um e meio, contava e contava as bicas em seu cinzeiro. Que agora, guarda na gaveta. Fechada. Uma relíquia. Presente da esposa. Sim, hoje vou chegar a casa, feliz, mais um dia que não faço o que ela detesta e reclama. Fiz tratamento dentário, os dentes voltaram a ficar quase brancos, afinal a idade não permite que o esmalte fique na cor que deveria arrumados com o excesso de nicotina. Sim, a nicotina fica arrumadinha neles, agora no espelho do banheiro, verificando todo o seu esquema. Todo o dente, quanto a isso cuidou bem. As cáries, vida curtíssima. Todas elas, bem colocadas, mudadas pelo cinza, brilhante, depois opaco e finalmente pelo esmalte. Nova tecnologia. Até nesse da frente, ficou pouco diferente, não dá para ver, verificando o sorriso.
- E aí, André, tudo bem? Está lindo, vai comer...
- Vou para casa, ver a esposa.
- E precisa de todo esse trato?
- Claro que sim, hoje é um dia especial. Nosso aniversário de deixar de fumar.
- Ela fumava também?
- Sim, charutos e cigarros. Uma fumante inveterada. Depois que tivemos... bem, não importa.
- Pode falar uma noite inesquecível de amor, vai ver. Pode falar, lavando o rosto e enxugando, puxando os papéis.
- Isso mesmo. Somos adultos, é verdade. Uma noite inesquecível de amor.
- Certo, certo, eu compreendo. Pode deixar... quer dizer, tudo bem, tenha uma ótima noite, André.
- Certo Napoleão.
- Ei, louco é você, meu nome é Antonio, seu... bem, deixa para lá. Já falei que não gosto do apelido. E louco é esse pessoal do escritório. Já foram todos embora?
- Sim, já. De onde você veio, afinal, para não tê-los visto. Está ficando idiota ou o que.
- Vim de lá... apontando e ele olhou novamente para o espelho. E não viu o louco, o Napoleão. E do lado dele, agora, rindo.
- Porra, o que é isso, se afastando e ficando, praticamente, preso na parede, com os braços para frente e totalmente alucinado.
- Calma, calma, está vendo o motivo do seu aniversário. Calma, André, eu estou bem, estou vivo. Só o espelho que não me vê. Eu não tenho culpa. Deve ser problema do fabricante.
- E você se vê no espelho. Caralho. Fiquei louco. Falta de fumaça no pulmão.
- Não, nada disso. Não vai descumprir a promessa que fez para ela naquela noite.
- Como sabe que era noite? O que você quer dizer com isso?
- Não sei, porque falei dessa maneira. Bem, terminando, puxando o pente e fazendo todo o trajeto até no final, batendo os dentes, novamente, neles, no pescoço, passando forte por ele, coçando. E o André, aos poucos, foi saindo, com ele distraído. E disparou para o elevador. Tocou. Abriu. E quando ele chegou e fez para receber o próprio, André, ali estava o Napoleão. O Antonio. Ele parou. O outro o puxou para dentro, com a mão forte que sempre foi possuidor. Pensando bem, quando foi que o Napoleão desapareceu? É verdade, ele faz tempo que não o via, apesar de ser de outro departamento.
- Vamos juntos. Quero ver se realmente não vai usar o maço.
- Ele está fechado, ficando longe dele. O segurança, quando ele saiu do elevador em disparada, abrindo a porta e correndo pela avenida, sorriu.
- É assim mesmo. Basta ver o Napoleão e esse pessoal corre desse jeito. O que foi agora, Napoleão?
- Ele não pode voltar a fumar, Aléssio. E você também não. Ele abriu a gaveta e mostrou. Fechado, completamente. E numerado. Foi o Napoleão. E ele viu o homem, o Napoleão sumir pela porta, que chegou a dar mais dois giros, pela batida do André.
- É assim mesmo. A fumaça deve ter feito mal para nós. Ele viu, eu vi que ele conseguiu ver o Napoleão. Um louco. Um louco que nos deixa assim. Cumprindo promessas.

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